O colapso dos rendimentos das stablecoins marca o fim da era de altos retornos no DeFi
O setor de criptomoedas precisa se adaptar à vida após o “fim da festa”.
O setor de criptomoedas precisa se adaptar à vida "após a festa".
Autor: Justin Alick
Tradução: Saoirse, Foresight News
Será que a era de obter rendimentos em criptomoedas com facilidade realmente chegou ao fim? Um ano atrás, depositar fundos em stablecoins parecia um "código de trapaça" — era possível obter juros generosos e (supostamente) sem assumir riscos. Hoje, essa ilusão se desfez. As oportunidades de rendimento com stablecoins encolheram drasticamente em todo o setor de criptomoedas, deixando as plataformas de empréstimos DeFi e os yield farmers em uma situação de quase retorno zero. Para onde foi a "galinha dos ovos de ouro" que prometia "APY sem risco"? Quem transformou o yield farming em uma "cidade fantasma"? Vamos analisar a fundo as razões para o "declínio" dos rendimentos das stablecoins — e o cenário não é animador.
O sonho do rendimento "sem risco" acabou
Lembra daqueles dias gloriosos (por volta de 2021)? Na época, vários protocolos distribuíam retornos anuais de dois dígitos para USDC e DAI como se fossem doces. Plataformas centralizadas, prometendo rendimentos de stablecoin entre 8% e 18%, aumentaram seus ativos sob gestão (AUM) para níveis impressionantes em menos de um ano. Mesmo os protocolos DeFi considerados "conservadores" ofereciam mais de 10% de rendimento para depósitos em stablecoins. Parecia que havíamos decifrado as regras das finanças — como se "dinheiro caísse do céu"! Investidores de varejo correram para participar, acreditando ter encontrado a "mágica" de ganhar 20% ao ano em stablecoins sem risco. E todos nós sabemos como isso terminou.
Avançando para 2025: o sonho do "rendimento sem risco" está morrendo. Os rendimentos das stablecoins caíram para níveis de um dígito, ou até mesmo para zero, esmagados por uma "tempestade perfeita" de fatores negativos. A promessa de "rendimento sem risco" nunca foi realista — e agora está completamente destruída. A "galinha dos ovos de ouro" do DeFi acabou se revelando uma "mosca sem cabeça".
Queda dos tokens, queda dos rendimentos
O primeiro "culpado" é óbvio: o mercado de baixa das criptomoedas. A queda dos preços dos tokens enfraqueceu severamente a "fonte de combustível" dos rendimentos. O bull market do DeFi dependia de tokens valorizados — você recebia 8% de rendimento em stablecoins porque o protocolo podia emitir e distribuir tokens de governança em alta. Mas quando esses tokens caem 80%-90%, o "banquete dos rendimentos" acaba. As recompensas de mineração de liquidez secam ou se tornam quase sem valor. (Por exemplo, o token CRV do Curve já chegou perto de US$ 6, mas hoje está abaixo de US$ 0,5 — subsidiar provedores de liquidez com ele já não faz sentido.) Em resumo: sem bull market, não há "almoço grátis".
Junto com a queda dos preços dos tokens, veio a fuga de liquidez. O valor total bloqueado (TVL) do DeFi despencou desde o pico. Após atingir o topo no final de 2021, o TVL caiu drasticamente, despencando mais de 70% durante o crash de 2022-2023. Bilhões de dólares saíram dos protocolos — seja por investidores realizando prejuízo, seja por liquidações forçadas em cascata. Com metade do capital indo embora, os rendimentos naturalmente caem: menos tomadores de empréstimo, menores taxas de transação, menos incentivos em tokens para distribuir. O resultado: apesar de uma leve recuperação em 2024, o TVL do DeFi (hoje mais parecido com "valor total perdido") ainda está longe da antiga glória. Quando o "campo" vira deserto, o yield farming não produz nada.
Apetite por risco? Praticamente zero
Talvez o fator mais decisivo para o fim dos rendimentos das stablecoins seja simples: medo. O apetite por risco dos investidores em criptomoedas caiu ao mínimo. Após uma série de "sustos" no setor de finanças centralizadas (CeFi) e "rug pulls" no DeFi, até mesmo os jogadores mais agressivos decidiram "ficar de fora". Tanto pequenos quanto grandes investidores abandonaram o antigo jogo de "caçar altos rendimentos". Desde o "desastre cripto" de 2022, a maioria dos fundos institucionais pausou seus aportes no setor; e os investidores de varejo que sofreram perdas agora estão extremamente cautelosos. Essa mudança de mentalidade é clara: se um app de empréstimo duvidoso pode sumir da noite para o dia, por que arriscar por 7% de rendimento? "Se algo parece bom demais para ser verdade, provavelmente não é" — essa frase finalmente foi assimilada.
Mesmo dentro do DeFi, os usuários só querem as opções mais seguras, evitando estratégias alternativas. O yield farming alavancado, que foi febre no "verão DeFi", virou nicho. Agregadores de rendimento e pools de liquidez também estão vazios — Yearn Finance não é mais assunto quente no Crypto Twitter. Em resumo, ninguém quer tentar estratégias complexas e arriscadas. Essa aversão generalizada ao risco está matando os rendimentos que antes eram obtidos por assumir riscos. Sem apetite por risco, não há prêmio de risco. O que sobra são apenas as taxas básicas, bem baixas.
Além disso, há mudanças no próprio nível dos protocolos: as plataformas DeFi também ficaram mais avessas ao risco. Muitas apertaram os requisitos de colateral, impuseram limites de empréstimo ou fecharam pools não lucrativos. Após ver concorrentes quebrarem, esses protocolos não querem mais "crescer a qualquer custo". Isso significa menos incentivos agressivos, modelos de juros mais conservadores — e, novamente, rendimentos mais baixos.
A "vingança" das finanças tradicionais: rendimento de 5% em títulos do Tesouro, por que se contentar com 3% no DeFi?
Ironia do destino: o setor financeiro tradicional (TradFi) passou a oferecer rendimentos maiores que o das criptomoedas. Entre 2023 e 2024, o aumento dos juros pelo Federal Reserve dos EUA elevou a "taxa livre de risco" (rendimento dos títulos do Tesouro) para quase 5%. De repente, até aquele título do Tesouro de curto prazo da vovó, antes "sem graça", paga mais que muitos pools do DeFi! Isso mudou tudo. O apelo do empréstimo de stablecoins era: o banco paga 0,1% de juros, o DeFi paga 8%. Mas quando o Tesouro oferece 5% "sem risco", o rendimento de um dígito do DeFi perde todo o brilho. Afinal, se o governo dos EUA paga mais, por que um investidor racional colocaria dinheiro em um smart contract duvidoso só para ganhar 4%?
Na prática, essa "diferença de rendimento" está drenando capital do setor cripto. Grandes investidores estão migrando para títulos seguros ou fundos de mercado monetário, não para "minas" de stablecoin. Até os emissores de stablecoin não ignoram essa tendência — passaram a investir suas reservas em títulos do Tesouro para obter rendimentos (que em sua maioria ficam com eles). O resultado: muitas stablecoins ficam paradas em carteiras, fora de circulação. O custo de oportunidade de manter stablecoins "sem rendimento" é altíssimo — os juros perdidos chegam a dezenas de bilhões de dólares. Quando as taxas do mundo real disparam, o dinheiro parado em stablecoins "apenas em cash" não rende nada. Em resumo: as finanças tradicionais "roubaram" o "negócio" do DeFi. Para competir, o DeFi teria que aumentar os rendimentos — mas sem nova demanda, isso não é possível. Assim, o capital continua saindo.
Hoje, Aave ou Compound (protocolos DeFi conhecidos) podem oferecer cerca de 4% de rendimento anual em USDC (com vários riscos), mas o título do Tesouro americano de um ano paga igual ou mais. É simples: ajustando pelo risco, o DeFi não consegue mais competir com as finanças tradicionais. O dinheiro inteligente já percebeu isso — e, a menos que algo mude, não voltará em massa ao DeFi.
Emissão de tokens de protocolo: insustentável e perto do fim
Para ser franco: aqueles rendimentos generosos das stablecoins no início já eram inflados. Vinham de inflação de tokens, subsídios de venture capital ou, essencialmente, de "economias Ponzi". Esse modelo nunca poderia durar. Em 2022, muitos protocolos tiveram que encarar a realidade: em um bear market, tentar pagar 20% ao ano leva à falência. Vimos vários protocolos cortando recompensas, encerrando projetos — porque o modelo era insustentável. As campanhas de mineração de liquidez diminuíram; com os cofres vazios, os incentivos em tokens caíram muito. Algumas "minas" ficaram literalmente "sem tokens" — com a fonte de rendimento seca, os investidores em busca de yield simplesmente foram embora.
A febre do yield farming virou bolha. Protocolos que antes emitiam tokens sem parar agora enfrentam as consequências: preços dos tokens no fundo do poço, e o "capital especulativo" em busca de ganhos rápidos já foi embora.
Na verdade, o "trem do alto rendimento" descarrilou de vez. Projetos de criptomoedas não conseguem mais atrair usuários apenas "imprimindo tokens" — ou destroem o valor do próprio token, ou atraem a ira dos reguladores. E há cada vez menos novos investidores dispostos a "minerar e despejar tokens" (em outras palavras, "segurar o mico"), então o ciclo de "rendimentos insustentáveis" se rompeu. O que resta hoje são rendimentos realmente sustentados por receitas reais (taxas de transação, spreads) — e esses são muito menores. O DeFi está sendo forçado a amadurecer, mas nesse processo, seus rendimentos estão "voltando à realidade" e encolhendo bastante.
Yield farming: uma "cidade fantasma"
Todos esses fatores juntos transformaram o yield farming em uma "cidade fantasma". As antigas "minas" ativas e estratégias agressivas agora parecem "história antiga". Hoje, ao navegar pelo Crypto Twitter, você ainda vê alguém ostentando APYs de 1000% ou promovendo novos "tokens de mineração"? Quase nunca. O que se vê são investidores experientes desanimados e pequenos investidores "presos" tentando sair. As poucas oportunidades de rendimento que restam são pequenas e arriscadas (ignoradas pelo capital mainstream) ou têm rendimentos tão baixos que não empolgam. Pequenos investidores deixam stablecoins paradas (sem rendimento, mas com segurança) ou as convertem em moeda fiduciária para aplicar em fundos tradicionais de mercado monetário. Grandes investidores buscam rendimento em parceria com instituições tradicionais, ou simplesmente mantêm dólares, sem interesse no "jogo do yield" do DeFi. O resultado: o "campo" está abandonado, sem colheita. O "inverno" do DeFi chegou, e as "culturas" não crescem.
Mesmo nas áreas onde ainda há rendimento, o clima é totalmente diferente. Os protocolos DeFi agora promovem integração com "ativos do mundo real" para tentar alcançar 5%-6% em alguns casos. Na prática, estão se aproximando das finanças tradicionais — o que equivale a admitir: só com atividade on-chain, não dá para gerar rendimentos competitivos. O sonho de um "ecossistema cripto independente de alto rendimento" está se desfazendo. O DeFi percebeu que, para buscar "rendimento sem risco", no fim das contas terá que seguir o caminho tradicional (comprar títulos do Tesouro ou outros ativos reais). E, na melhor das hipóteses, esses rendimentos ficam na "casa dos 5%". O DeFi perdeu sua antiga vantagem.
O cenário atual é: os rendimentos em stablecoins que conhecíamos desapareceram. Um APY de 20% era ilusão, e até os dias de 8% ficaram para trás. O que resta é a dura realidade: quem quiser buscar altos rendimentos em cripto hoje terá que assumir riscos enormes (e possivelmente perder tudo), ou estará apenas "correndo atrás de miragens". A taxa média de empréstimo de stablecoins no DeFi, mesmo que supere um CD bancário, tem vantagem mínima. Ajustando pelo risco, o rendimento do DeFi hoje chega a ser risível comparado a outras opções.
Não existe mais "almoço grátis" em cripto
Vamos encarar a realidade de forma "pessimista": a era de obter rendimentos em stablecoins com facilidade acabou. O sonho do "rendimento sem risco" do DeFi não morreu de causas naturais — foi "assassinado" por vários fatores: leis de mercado, medo dos investidores, competição das finanças tradicionais, fuga de liquidez, economia de tokens insustentável, pressão regulatória e a fria realidade. O setor de criptomoedas viveu uma festa de altos rendimentos digna do "Velho Oeste", mas terminou em desastre. Agora, os "sobreviventes" lutam para conseguir 4% de rendimento — e já consideram isso uma "vitória".
Isso significa que o DeFi acabou? Não necessariamente. A inovação sempre cria novas oportunidades. Mas o tom do setor mudou radicalmente: no futuro, os rendimentos em cripto terão que vir de "valor real" e "risco razoável", não de "dinheiro mágico da internet". Os dias de "stablecoin rendendo 9% só porque o número sobe" acabaram. O DeFi não é mais a "escolha óbvia melhor que o banco" — na verdade, em muitos aspectos, hoje é até pior.
Uma questão para reflexão: será que o yield farming pode renascer? Ou sempre foi só uma moda passageira da "era dos juros zero"? Por enquanto, o futuro é sombrio. Talvez, se as taxas globais caírem de novo, o DeFi possa voltar a atrair atenção com rendimentos "alguns pontos acima", mas mesmo assim, a confiança do mercado já foi muito abalada. Fazer o "gênio da dúvida" voltar para a garrafa será muito difícil.
No momento, a comunidade cripto precisa encarar um fato cruel: não existe oportunidade de "ganhar 10% sem risco" no DeFi. Para buscar altos rendimentos, é preciso investir em projetos voláteis ou estratégias complexas — exatamente o tipo de risco que as stablecoins deveriam ajudar a evitar. O valor central do rendimento em stablecoins deveria ser "porto seguro com rendimento". Agora, essa ilusão se quebrou. O mercado finalmente percebeu: o chamado "poupança em stablecoin" muitas vezes é apenas um eufemismo para "brincar com fogo".
Talvez esse "ajuste de contas" não seja ruim para o setor. Eliminar rendimentos falsos e promessas insustentáveis pode abrir caminho para oportunidades de investimento mais reais e razoáveis. Mas isso é uma visão de longo prazo. A realidade de hoje é dura e clara: as stablecoins ainda oferecem "estabilidade", mas não podem mais prometer "rendimento". O mercado de yield farming em cripto continua em declínio, e muitos dos antigos "agricultores" já saíram de vez. O DeFi já foi "terra fértil de rendimentos de dois dígitos", mas hoje nem chega ao nível dos títulos do Tesouro — e com risco muito maior. O mercado percebeu isso e está votando com os "pés" (e com o dinheiro).
De uma perspectiva crítica, é inevitável fazer uma pergunta incômoda: se um movimento financeiro supostamente "revolucionário" não consegue superar nem a "carteira de títulos da vovó", qual é o seu valor? O setor DeFi precisa responder a essa questão — caso contrário, o "inverno" dos rendimentos em stablecoins vai continuar. O hype acabou, os rendimentos sumiram, os "turistas especuladores" já foram embora. O que resta é um setor forçado a encarar suas próprias limitações.
Enquanto isso, talvez devêssemos fazer um "minuto de silêncio" pelo conceito de "rendimento sem risco". Ele já trouxe alegria, mas agora acabou. É hora de voltar à realidade: o rendimento das stablecoins basicamente chegou a zero, e o setor de criptomoedas precisa se adaptar à vida "após a festa". Prepare-se e não acredite mais em novas promessas de "altos rendimentos fáceis". No mercado atual, não existe "almoço grátis". Quanto mais cedo aceitarmos isso, mais cedo poderemos reconstruir a confiança — e talvez um dia encontrar rendimentos "ganhos com esforço, não do nada".
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