Bitcoin a valer 1 milhão de dólares não é uma questão de preço, mas sim uma negação da realidade | Opinião
As pessoas gostam de debater se o Bitcoin (Bitcoin) pode chegar a um milhão de dólares. Descrevem isso como uma previsão, um plano de ir à lua ou um truque de marketing. Os otimistas veem isso como o objetivo final, enquanto os críticos consideram uma ilusão. Mas ambos os lados geralmente ignoram o ponto principal.
- O debate sobre o Bitcoin atingir 1 milhão de dólares na verdade não se trata de preço — reflete uma negação profunda de que o sistema monetário tradicional já foi corroído por crises, intervenções e o desaparecimento de restrições.
- A ascensão do Bitcoin tem origem na insatisfação com o sistema financeiro, onde as poupanças se desvalorizam, a confiança parece ingênua e os formuladores de políticas sacrificam repetidamente a credibilidade de longo prazo por uma calma de curto prazo.
- Se o preço do Bitcoin realmente chegar a 1 milhão de dólares, isso não marcará a vitória das criptomoedas — pelo contrário, provará que o sistema antigo depende de intervenções contínuas, confiança em declínio e negação coletiva.
Os utilizadores ativos nas redes sociais dividem-se em dois grupos: um publica emojis de olhos de laser, o outro publica emojis de palhaço. O Bitcoin a valer um milhão de dólares não é o futuro heróico da vitória final das criptomoedas, mas sim uma admissão silenciosa de que o sistema monetário antigo já falhou.
A maioria de nós foi educada desde cedo com a ideia de que o próprio design do dinheiro é aborrecido. Os bancos centrais deveriam desempenhar o papel de adultos responsáveis. Os governos podem gastar, mas devem ter limites. A inflação parece acontecer apenas noutros lugares, em economias mal geridas, e não como algo inerente ao sistema. Quando surgem problemas, são considerados “temporários”, exigindo cautela e depois sendo gradualmente resolvidos. Este sistema não colapsou de uma só vez, mas foi-se desintegrando gradualmente, crise após crise.
A essência da negação é que mais dinheiro não resolve problemas estruturais.
Em 2021, o preço do Bitcoin atingir um milhão de dólares ainda era demasiado extremo para ser discutido abertamente por qualquer profissional do setor cripto. No entanto, nos últimos seis a oito meses sob a administração Trump, pessoas como Brian Armstrong, Cathie Wood e Arthur Hayes sugeriram casualmente que esse dia poderia chegar em apenas alguns anos.
Cada vez que surge um problema, seja pânico financeiro, pandemia ou turbulência bancária, a resposta é sempre a mesma... primeiro intervém-se, depois explica-se. A impressão de dinheiro é apresentada como uma medida de proteção, a dívida como uma necessidade.
A libertação é sempre prometida, mas nunca realizada. Com o tempo, a ideia de contenção deixa de ser realista, até parece irresponsável. Se a dor pode ser adiada, aliviada ou escondida amanhã, porque suportá-la hoje?
É aqui que reside a raiz da negação. Negar que mais dinheiro não resolve problemas estruturais. Negar que não há ligação entre inflação de ativos e estagnação salarial. Negar que a confiança, uma vez perdida, não se recupera do nada.
Mesmo quando a habitação se torna inacessível, as poupanças perdem o sentido e o risco se transforma num subsídio unilateral, o sistema continua a afirmar que tudo está sob controlo. O Bitcoin nasceu neste contexto, mas não é um símbolo de protesto. Não exige reformas ou melhor liderança. Simplesmente opta por sair do sistema.
O Bitcoin nunca prometeu estabilidade
O Bitcoin não promete estabilidade. Não vai salvar ninguém. Não se ajusta para fazer as pessoas sentirem-se melhor. As suas regras não se importam com quem está no poder, nem com as manchetes das notícias. Isto não é idealismo, é indiferença.
Num mundo onde o dinheiro está profundamente ligado ao indivíduo e à política, a indiferença torna-se cada vez mais rara. Diz-se que o Bitcoin “é apenas especulação”, o que é apenas meia-verdade. Mas ignoram a razão fundamental da especulação. As pessoas não apostam no Bitcoin porque de repente gostam de volatilidade, mas sim como resposta a um sistema onde poupar é estar atrasado e confiar é ser ingênuo.
Um Bitcoin a valer um milhão de dólares significa que a negação prevaleceu durante muito tempo. Significa que os decisores políticos escolheram sempre a calma de curto prazo em vez da credibilidade de longo prazo. Significa que cada resgate confirma que o anterior não foi realmente excecional. Significa que o dinheiro passou gradualmente de uma ferramenta de medição para uma ferramenta narrativa, usada para gerir expectativas em vez de refletir a realidade.
Nesse mundo, o Bitcoin torna-se um espelho. Não é uma solução, nem um salvador, apenas um ponto de referência inabalável.
É mais fácil zombar do Bitcoin do que aceitá-lo.
O seu preço continua a subir, não porque o seu desempenho tenha melhorado, mas porque tudo o resto está constantemente a ceder. Cada novo zero representa mais uma restrição tornada inconveniente, mais um momento em que a disciplina foi adiada.
Isto é desconfortável, por isso muitos preferem zombar do Bitcoin em vez de refletir seriamente sobre o seu significado. É muito mais fácil ridicularizar uma moeda digital do que admitir que o nosso sistema económico atual depende de intervenção contínua e da confiança pública. É mais fácil chamar o Bitcoin de imprudente do que questionar se a verdadeira imprudência não está na flexibilidade ilimitada.
Na verdade, se o Bitcoin realmente atingir um milhão de dólares, isso não parecerá uma vitória, mas sim uma prova. Prova de que a confiança foi trocada por tempo. Prova de que a ideia de “dinheiro sólido” não foi rejeitada por ser errada, mas porque se tornou politicamente intolerável.
O Bitcoin não resolve os problemas do mundo, nem nunca afirmou que o faria. Apenas cumpre o que promete. Se um dia o seu valor chegar a um milhão de dólares, o preço não refletirá o próprio Bitcoin, mas sim há quanto tempo fingimos que tudo está bem.
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