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Um mundo além do SWIFT: a economia secreta da Rússia e das criptomoedas

Um mundo além do SWIFT: a economia secreta da Rússia e das criptomoedas

BlockBeatsBlockBeats2025/12/08 05:59
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By:BlockBeats

Num país cercado pelo sistema financeiro ocidental, o termo "stablecoin", que antes só aparecia em white papers do Vale do Silício, tornou-se silenciosamente uma infraestrutura da qual pessoas comuns e empresas realmente dependem.

Autor do artigo: Anita


As manhãs de inverno em Moscovo chegam sempre devagar. O metro desliza dos bairros residenciais cinzentos para o centro da cidade, e nos ecrãs de publicidade dentro das carruagens passam, como de costume, anúncios de empréstimos em rublos, promoções de compras online e um banner aparentemente normal: “Liquidação de receitas do estrangeiro? USDT também é possível.” É difícil imaginar que, num país bloqueado pelo sistema financeiro ocidental, o termo “stablecoin”, que antes só aparecia em white papers de Silicon Valley, já se tornou uma infraestrutura real da qual pessoas e empresas dependem.


Aleksei (nome fictício), 34 anos, autodenomina-se “consultor de TI”, mas a sua verdadeira identidade é a de um pequeno nó numa cadeia de mercado negro de stablecoins em Moscovo. O seu dia de trabalho começa às nove da manhã, verificando canais no Telegram. No telemóvel tem quatro ou cinco grupos: “Preço interno USDT Moscovo”, “Canal de liquidação para freelancers”, “Rublos em dinheiro/cartão – só para conhecidos”.


Em cada grupo há bots a anunciar preços — “Comprar USDT a 76.3, vender a 77.1”. Num nível mais profundo, há dezenas de janelas de chat privadas: jovens que fazem desenvolvimento outsourcing e querem trocar dólares recebidos de clientes de cartões estrangeiros para USDT e depois para rublos; pequenas empresas de importação de peças que precisam de pagar fornecedores turcos em USDT; e números desconhecidos com sotaque, dizendo apenas: “Montante grande, encontro presencial.”


A forma como Aleksei lucra é simples: ganha pequenas margens em operações de baixo valor ou cobra uma comissão de algumas décimas de ponto percentual em grandes transações, apoiando-se depois em cambistas ou plataformas de troca maiores.


À superfície, tudo isto parece apenas “câmbio”, mas o dinheiro rapidamente flui para correntes mais profundas e obscuras.


Alguns depositam USDT em plataformas locais com interface em russo e depois trocam por bitcoin para transferir; outros, através de plataformas russas como a Garantex, lavam fundos para contas offshore; há ainda quem use para reforçar a liquidez de empresas na Geórgia ou nos Emirados Árabes Unidos.


À noite, Aleksei divide o USDT ganho no dia em duas partes: uma vende por rublos para pagar a hipoteca e as compras, a outra fica quieta numa carteira multi-assinatura, à espera de uma eventual mudança de cenário — pode ser o último seguro da família.


Nas estatísticas, ele é apenas um pequeno ponto no “influxo de cripto de retalho russo”.


Mas são as linhas que ligam todos estes pontos que formam o mercado invisível.


1. Depois de cortado, crescem novas veias subterrâneas


A história cripto da Rússia não começou apenas após as sanções.


Em 2020, a Europa de Leste já era uma das regiões do mundo com maior volume de transações cripto relacionadas com crime. Segundo a Chainalysis, a dark web recebeu nesse ano um recorde de 1.7 mil milhões de dólares em cripto, a maior parte para um nome: Hydra. A Hydra foi o maior mercado da dark web do mundo, chegando a representar 75% das receitas globais deste tipo de mercado.


Antes de ser desmantelada pela polícia alemã em abril de 2022, era na prática um enorme “centro de economia paralela” — drogas, documentos falsos, serviços de lavagem de dinheiro, dados biológicos, todas as “transações não reconhecidas pelo mundo oficial” eram liquidadas em stablecoins.


A queda da Hydra não fez desaparecer esta cadeia, apenas dispersou as sombras: os seus utilizadores, infraestruturas e redes de intermediários reorganizaram-se entre Garantex, OTCs no Telegram e pequenas plataformas de troca.


O lado negro da economia cripto russa não surgiu só após as sanções — tem raízes históricas profundas.


Desde o início da guerra Rússia-Ucrânia em 2022 e o endurecimento das sanções, a Rússia foi sendo bloqueada em várias camadas do sistema financeiro tradicional: reservas cambiais congeladas, grandes bancos excluídos do SWIFT, Visa e Mastercard a abandonar o país. Para um país cuja sobrevivência depende da exportação de energia e matérias-primas, isto foi quase como apertar-lhe o pescoço.


Mas os números on-chain contam outra história:


Segundo estatísticas da Chainalysis sobre a atividade cripto europeia entre julho de 2024 e junho de 2025, a Rússia recebeu, nesse período, 376.3 mil milhões de dólares em criptoativos, mantendo-se em primeiro lugar na Europa, muito à frente do Reino Unido, com 273.2 mil milhões.


No mining de bitcoin, a Rússia também já não é um ator invisível. De acordo com a última estimativa da Hashrate Index, até ao final de 2024, a Rússia detinha cerca de 16% do poder de hash global do bitcoin — só atrás dos EUA.


Estes dois números são frios, mas dizem tudo:


Quando o mundo tenta expulsar a Rússia do sistema financeiro tradicional, uma nova economia cripto subterrânea está a crescer rapidamente.


Se comerciantes OTC como Aleksei são os capilares, plataformas locais como a Garantex são o coração negro do mercado.


A Garantex foi inicialmente registada na Estónia, mas sempre teve o seu foco de operações em Moscovo. Desde 2022, foi sucessivamente incluída nas listas de sanções do Departamento do Tesouro dos EUA e da União Europeia, acusada de facilitar ransomware, transações na dark web e bancos sancionados.


À partida, uma plataforma destas já deveria estar “morta”. Mas em setembro de 2025, um relatório do International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ) revelou: apesar de várias ofensivas, a Garantex “continua a operar nas sombras”, usando uma série de empresas offshore, sites espelho e contas de proxy para fornecer serviços de câmbio e transferência cripto a clientes russos e de regiões vizinhas.


Mais impressionante ainda, um relatório aprofundado da TRM Labs mostrou que, em 2025, a Garantex e a plataforma iraniana Nobitex foram responsáveis por mais de 85% dos fundos cripto que fluíram para entidades e jurisdições sancionadas.


Em março de 2025, a Tether congelou carteiras USDT ligadas à Garantex, no valor de cerca de 280 mil dólares (cerca de 2.5 mil milhões de rublos), forçando a plataforma a suspender operações. Mas poucos meses depois, o Departamento do Tesouro dos EUA sancionou um novo nome: Grinex — “criada por funcionários da Garantex para ajudar a contornar sanções através de uma plataforma de troca cripto”.


O coração negro levou um murro, mas voltou a bater noutra forma.


2. A7A5: A ambição e o paradoxo do “rublos on-chain”


O USDT é atualmente o protagonista da economia paralela russa, mas para os oficiais de Moscovo tem um problema fatal — é demasiado “americano” e demasiado “centralizado”.


Em 2025, uma nova peça foi discretamente colocada em jogo: A7A5, uma stablecoin emitida por uma plataforma do Quirguistão, alegadamente indexada ao rublo.


Segundo uma investigação do Financial Times, a A7A5 movimentou entre 6 a 8 mil milhões de dólares em apenas quatro meses, a maioria em dias úteis e durante o horário de Moscovo, com o banco custodiante sendo o Promsvyazbank, banco de defesa russo sob sanções.


Documentos de sanções da UE e do Reino Unido descrevem-na simplesmente como “uma ferramenta para a Rússia contornar sanções”. Em outubro de 2025, a UE incluiu oficialmente a A7A5 na lista de sanções, e empresas de análise on-chain apontaram a sua forte ligação com a Garantex e a Grinex — tornando-se um novo nó central na rede de liquidação cripto russa.


O papel da A7A5 é subtil:

1. Para empresas russas, é um “stablecoin em rublos que evita o risco USDT”;

2. Para reguladores, é uma “ferramenta invisível para colocar rublos on-chain e contornar a supervisão bancária”.


Por trás disto está uma ideia cada vez mais clara na Rússia: “Se não podemos viver sem stablecoins, pelo menos uma parte delas deve ser impressa por nós.”


O paradoxo é que qualquer stablecoin que queira ser global depende de infraestruturas que a Rússia não controla: blockchains públicas, nós transfronteiriços, plataformas de troca estrangeiras, sistemas financeiros de terceiros países.


A A7A5 quer ser uma “stablecoin soberana”, mas tem de circular num mundo que a Rússia não domina. Este é o retrato da estratégia cripto russa — quer libertar-se do sistema financeiro ocidental, mas tem de continuar a usar os “blocos financeiros on-chain” criados pelo Ocidente.


3. O que significa cripto para a Rússia? Não é o futuro, é o presente


O Ocidente vê frequentemente a cripto como um ativo, uma tecnologia ou até uma cultura. Na Rússia, ela tem um papel completamente diferente:


1. Para empresas: cripto é um canal alternativo de liquidação comercial


A Rússia importa peças de alta tecnologia, componentes de drones, instrumentos industriais e até bens de consumo, muitos dos quais não podem ser pagos pelo sistema bancário tradicional. Assim, criou-se uma rota discreta mas estável: empresas russas exportam para intermediários no Médio Oriente/Ásia Central, que depois usam USDT/USDC para pagar fornecedores, e o dinheiro regressa a Moscovo via OTC em rublos.


Não é sofisticado, nem romântico, nem “descentralizado”, mas funciona, move-se e sobrevive.


Aqui, cripto não é sonho, é o realismo mais pragmático e funcional.


2. Para os jovens, cripto é a saída para fugir da moeda nacional


O sistema bancário russo tem há muito pouca confiança, e a fragilidade do rublo ao longo dos anos fez da cripto o porto seguro natural para a classe média e jovens engenheiros.


Se perguntar a um engenheiro de software em Moscovo, ele provavelmente não dirá “invisto em cripto”, mas sim “troco o salário por USDT e deixo com uma equipa OTC de confiança no Telegram. O banco pode congelar o cartão, mas a blockchain não me congela.”


Esta frase é o retrato da Rússia contemporânea.


3. Para o Estado, cripto e mining são “exportação de energia digital”


A Rússia tem uma das eletricidades mais baratas do mundo — a energia hidroelétrica e o excedente de gás da Sibéria são um paraíso para o mining de bitcoin.


O mining oferece: um “produto de exportação” fora do sistema bancário, um bem digital globalmente convertível, uma forma de contornar bloqueios financeiros.


O Ministério das Finanças russo já admitiu várias vezes: “Os lucros do mining são parte essencial do sistema comercial do Estado.”


Já não é uma atividade informal, mas um setor quase estatal da economia.


4. Para o sistema cinzento: cripto é o lubrificante invisível


Esta parte é difícil de quantificar, mas os factos incluem: agências de inteligência europeias apontam o uso de cripto por serviços secretos russos para pagar operações de informação e hackers; grandes fluxos subterrâneos entre a Europa e a Rússia usando stablecoins; redes de contrabando altamente dependentes de trilhos financeiros on-chain.


A Rússia é uma “potência cripto”?


A resposta é mais complexa do que parece. Se for por inovação tecnológica, não é. Se for por projetos de VC ou DeFi, também não. Mas se for por mining, volume de transações on-chain, influxo de stablecoins e dependência na liquidação comercial, é um centro de poder cripto impossível de ignorar a nível global.


Não se tornou assim “por vontade própria”, mas porque “foi empurrada pelo mundo”.


Este artigo é uma submissão e não representa a opinião da BlockBeats.
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