Relatório do Congresso conclui que Milei, da Argentina, forneceu 'colaboração essencial' para o projeto Libra

Um comité de investigação da Câmara dos Deputados da Argentina divulgou um relatório final contundente sobre o colapso da criptomoeda Libra, recomendando que o Congresso Nacional avalie se o Presidente Javier Milei cometeu "má conduta no exercício do cargo" pelo seu papel na promoção do token.

Milei promoveu a criptomoeda Libra, destinada a impulsionar o financiamento de pequenas empresas domésticas, com uma publicação no X a partir da sua conta pessoal, que mais tarde apagou depois de 8 carteiras relacionadas com a equipa da Libra terem levantado 107 milhões de dólares.

O relatório, intitulado "$LIBRA NÃO FOI UM EVENTO ISOLADO", conclui que as perdas generalizadas associadas ao token não foram apenas resultado de uma má supervisão, mas possivelmente resultado de uma "vontade deliberada de contornar os controlos institucionais".

Um resumo das considerações finais do relatório de 200 páginas, fornecido ao The Block por Juan Marino, político argentino e secretário do comité de investigação, concluiu: "Javier Milei envolveu a investidura presidencial para permitir que o alegado esquema $LIBRA ocorresse efetivamente: sem o seu tweet, $LIBRA não teria tido o volume de compras que teve."

Milei negou qualquer irregularidade no escândalo e, em maio, dissolveu uma força-tarefa de investigação criada pelo seu gabinete para investigar o escândalo Libra e as suas ligações a Milei e à sua irmã, Karina Milei, dias depois de um juiz ter pedido ao Banco Central da Argentina que levantasse o sigilo das contas bancárias do presidente e da sua irmã. 

Milei e os fundadores da Libra, incluindo o empresário americano Hayden Davis, enfrentam uma investigação judicial na Argentina, bem como uma ação coletiva do escritório Burwick Law, sediado em Nova Iorque e especializado em esquemas de criptomoedas.

O relatório alega que 114.410 carteiras perderam dinheiro ao negociar Libra. 

Um "padrão" de má conduta

Embora o colapso da Libra em fevereiro de 2025 tenha atraído mais atenção internacional, o relatório do comité descreve um padrão de comportamento iniciado meses antes. Os investigadores destacaram o lançamento do KIP Protocol em dezembro de 2024 como um precedente factual.

De acordo com o comité, o Presidente Milei validou publicamente o KIP pouco antes de as suas pools de liquidez serem esvaziadas, uma sequência de eventos que se repetiu com $LIBRA. Uma análise on-chain citada no relatório alega que o operador Manuel Terrones Godoy converteu tokens $KIP em USDT e transferiu fundos para o associado Mauricio Novelli no mesmo dia do lançamento público do token.

O comité afirmou que esta repetição "torna plausível a hipótese" de que a administração contornou sistematicamente órgãos técnicos como a Comissão Nacional de Valores (CNV) para facilitar estes projetos.

"Em ambos os casos, as criptomoedas foram lançadas após terem recebido algum tipo de validação pública pelo Presidente da Nação, após o que as pools de liquidez foram esvaziadas, gerando uma queda abrupta no preço", afirma o relatório.

A promoção do protocolo KIP por Milei não recebeu anteriormente o mesmo nível de escrutínio que o escândalo Libra. "Embora $KIP não tenha alcançado a repercussão de $LIBRA — dado que este último contou com uma promoção presidencial sustentada através de um tweet fixado durante horas — estabeleceu um precedente factual e temporal", afirma o relatório. 

O comité também descobriu que Milei promoveu um jogo NFT chamado "Vulcano", criado por Novelli, e "CoinX", uma empresa alvo de buscas judiciais no contexto de uma investigação de fraude iniciada em 2022. 

Segundo o El País, legisladores do partido de Milei, La Libertad Avanza, terão participado na reunião de terça-feira do comité de investigação e "rejeitaram o relatório e argumentaram que a oposição não conseguiu apoio suficiente para avançar com o mesmo", embora os deputados não tenham apresentado uma proposta alternativa.